Descrição enviada pela equipe de projeto. Transformar uma garagem semienterrada na primeira loja física do e-commerce multimarcas Bemglô foi o desafio enfrentado por esse projeto. Localizado na Rua Oscar Freire, uma das principais vias comerciais de São Paulo, o local é parte remanescente de um imóvel onde há alguns anos outra marca já estava estabelecida.
Enquanto a vizinha ocupa o espaço mais convencional para uma loja, diretamente conectado à rua através de vitrines, a área destinada a Bemglô é constituída por uma rampa estreita, 3m de largura por 25m de extensão, seguida de um salão. Apesar das dimensões mais generosas, o baixo pé-direito de 2.1m e a ausência de aberturas faziam do salão um ambiente úmido, escuro e enclausurado.
A luz natural foi o artifício utilizado para ampliar a sensação espacial, atrair os olhares da rua e convencer as pessoas a adentrarem a loja. Um forro de telha ondulada de fibra de vidro, sob uma cobertura transparente pré-existente, acompanha a rampa em todo o seu percurso com uma luz filtrada e difusa. O desenho do volume interno associado ao forro, fecha com o mesmo material um mezanino para onde a loja vizinha já havia avançado o seu estoque. Nele foram embutidos as luzes artificiais, tendo luminárias T5 na parte interna para uma iluminação geral, e um trilho de spots para focos de luz, que podem correr conforme a disposição dos produtos. Outra entrada de luz natural importante foi feita através da demolição parcial da laje ao fundo do salão.
Apesar de não estarem internamente conectadas, as duas lojas compartilham a mesma fachada. Para comunicar a existência da Bemglô aos transeuntes, sua entrada de pequenas proporções foi demarcada por um pórtico de concreto, moldado pelas mesmas telhas presentes no teto. Da entrada também é possível avistar, suspensa na parede à direita, a viga metálica que percorre toda a extensão da loja e leva a perspectiva do olhar para seu interior. Essa operação permitiu a utilização da rampa como espaço expositivo, premissa importante colocada pelos clientes. Na viga foram acoplados módulos expositores de diversos tamanhos e configurações, permitindo a dinâmica de layouts necessária à uma multimarcas.
No alargamento da rampa, sob o pé-direito mais alto de toda a loja, um jardim qualifica o ambiente visualmente e termicamente. Este também foi utilizado para a exposição de produtos por meio de prateleiras de vidro, flutuantes entre as plantas e apoiadas por um sistema de vergalhão dobrado.
O programa mais funcional composto por banheiro, estoque, provador, área de pagamentos e embrulhos foi disposto em um núcleo único na área do salão. Em formato de L desdobra-se junto à quina das paredes, de forma a atrapalhar minimamente o espaço livre para a disposição de produtos.
O forro de gesso presente no salão foi retirado, suas lajes e vigas descascadas a fim de revelar o sistema construtivo e aumentar o pé-direito. Junto à nova entrada de luz, na demolição da laje, foi projetado um espaço para o parceiro Café Catarina.
Na criação da identidade física procuramos nos manter todo o tempo fiéis aos conceitos fundamentais da Bemglô: produção sustentável, artesanal e nacional. Por isso a maior parte dos planos verticais foram pintados com tinta natural de terra e o plano horizontal coberto por um granilite que reutiliza fragmentos de vidros ao invés de pedriscos.
Grande parte do projeto foi sendo criado na obra, em meio as surpresas reveladas na demolição, recorrentes em projetos de reformas. A reutilização de materiais construtivos, como por exemplo as madeiras transformadas em estantes, ou o sistema expositor de vergalhão testado e construído in loco junto ao serralheiro, para citar alguns exemplos, foram viabilizadas pela presença dos arquitetos na obra. Diante a um prazo e orçamento enxutos esse momento foi entendido e vivenciado intensamente como espaço de experimentação e criação.